"Como chegar ao Mercado dos Lavradores"
Este blogue é criado no âmbito da cadeira de “Gestão e divulgação de conteúdos online” do 2º ano do CET – Património Cultural. Apesar de ser um blogue essencialmente de carácter cultural, é minha intenção introduzir outros assuntos que aparentemente descabidos, terão certamente algum paralelismo.
terça-feira, 24 de abril de 2012
A jeito de introdução, vou apresentar o Mercado dos Lavradores visto por diferentes olhares, sendo o primeiro:
"Como um fotografo vê o Mercado dos Lavradores"
Fotografia 1
Fotografia 2
Fotografia 3
Fotografia 4
Fotografia 5
Fotografia equilibrada, com alguma mistura de tipos de linhas, mas que no seu conjunto apresenta uma forma harmoniosa, a presença de elementos que nos dão a noção de escala e está com uma cor adequada a situação, não sendo um primeiro plano pelo facto de nos dar a noção exacta da localização do painel de azulejos que é o elemento que queremos realçar, aplica-se a regra dos terços, embora perdendo alguma leitura instantânea de um ponto um pouco forte do lado esquerdo, ganha-se pela dimensão e quase isolamento do painel.
Fotografia 6
Fotografia 7
"Como eu sinto o Mercado dos Lavradores"
Tive mais de 20 anos sem pôr os pés no mercado, mas lembro-me quando criança, à Sexta à noite pedir à minha mãe para me acordar cedo no dia seguinte, para com ela ir às compras, algumas vezes isso aconteceu outras ficava todo irritado quando acordava e a minha mãe havia voltado do mercado sem que eu tivesse ido.
Fotografia 1
Visão normal de um plano geral do mercado, linhas que partem de um ponto comum, divergindo-se em sentidos opostos, o que lhe confere uma forma triangular simétrica na verticalidade, em simultâneo a presença subtil de algumas linhas curvas que contribuem para uma suave geometria, linha de horizonte a dividir o 1º terço superior e presença de elementos que permite uma real noção de escala.
Fotografia 2
Rica em linhas verticais que impõem um centro de gravidade equilibrado, tendo ainda algumas linhas horizontais que asseguram uma sensação de estabilidade e de grande profundidade. Luz difusa mas também criando linhas oblíquas com alguma polarização de luz artificial. Podemos considerar um plano narrativo de visão normal.A presença de uma figura humana no canto inferior direito demonstra bem a dimensão do espaço
Fotografia 3
Apesar das três manchas equilibradas de cores quentes atraírem-nos para um primeiro olhar, há todo um jogo de linhas e pessoas que embora num segundo plano nos cativam a atenção. Sendo este um plano picado ganha muito pela cor quente, forma padrão e luminosidade dos chapéus.
Fotografia 4
A única fotografia deste trabalho em posição vertical, assim se exigia de forma a possibilitar um melhor registo de profundidade, imposto pelas sombras e por um ponto de fuga bem delimitado, para além da sequência de vários elementos verticais.
Polarização bem definida e acentuada com o contraste sombra/luz. Ao fim que pretende esta fotografia, foi aplicado a regra dos terços, para salientar a magnitude de este tipo arquitectónico.
Fotografia 5
Fotografia equilibrada, com alguma mistura de tipos de linhas, mas que no seu conjunto apresenta uma forma harmoniosa, a presença de elementos que nos dão a noção de escala e está com uma cor adequada a situação, não sendo um primeiro plano pelo facto de nos dar a noção exacta da localização do painel de azulejos que é o elemento que queremos realçar, aplica-se a regra dos terços, embora perdendo alguma leitura instantânea de um ponto um pouco forte do lado esquerdo, ganha-se pela dimensão e quase isolamento do painel.
Fotografia 6
Cores e formas é o que não falta a esta fotografia, iluminação difusa enriquecida por um ponto de luz artificial que quase estremece todo um conjunto que sendo bonito pode tornar-se melancólico. A presença de três pessoas nesta fotografia, faz com que ganhe vida e active os cheiros subjectivos de quem a contempla.
Tendo em conta o contexto destas fotografias, considera-se esta um grande plano, que ganha por algum contraste de sombra/luz, cuja cor e padrão é muito agradável, assim como a ausência de linhas ou a sua total desorganização de alinhamento que nos remete para um equilibro total de um suave amontoar de uma forma geométrica.
Mercado dos Lavradores
O Mercado dos Lavradores, faz parte do núcleo histórico de Santa Maria, é um ponto obrigatório tanto para residentes, como para qualquer forasteiro que nos visite.
Projectado por Edmundo Tavares (1892-1983), com traços arquitectónicos do Estado Novo, numa combinação graciosa de “art deco” e modernismo, (foto 1) foi inaugurado a 24 de Novembro de 1940. É uma obra do período do Governo camarário de Fernão de Ornelas.
Tem uma área coberta de 9.600 m2, que era suficiente para servir uma população estimada em 25.000 habitantes nessa época. No piso inferior térreo com a rua da Boa Viagem, situa-se a designada praça do peixe, (foto 2) numa plataforma um pouco superior que dá para a Rua do Hospital Velho, localiza-se os talhos, espaços reservados à venda de hortaliças, (foto 3) e outros para souvenirs, ainda conta com dois bares de apoio, um banco e um minimercado. No piso superior que se caracteriza por uma galaria em toda a dimensão do edifício, deixando em aberto um espaço panorâmico que permite uma deslumbrada vista ao 1º andar. Conta ainda com um espaço a jeito de terraço onde se encontra um magnífico bar com uma bela esplanada (foto 4) que nos proporciona uma vista interna para a praça do peixe.
De salientar os vários painéis de azulejos manufacturados na Fabrica de Loiça de Sacavém que se encontram na sua fachada principal, nas paredes laterais da entrada (foto 5) e ainda no seu interior.
A tradição mantêm-se no traje regional das vendedoras de flores onde predomina as cores vivas e alegres, assim como nos aromas que diversificam das flores aos frutos exóticos, (foto 6) para o característico cheiro do peixe, culminando com as ervas aromáticas e especiarias. É um sem fim de cheiro, cores, formas e padrões, que enche-nos o olhar mesmo à contra-luz. (foto 7)
"Como eu sinto o Mercado dos Lavradores"
Tive mais de 20 anos sem pôr os pés no mercado, mas lembro-me quando criança, à Sexta à noite pedir à minha mãe para me acordar cedo no dia seguinte, para com ela ir às compras, algumas vezes isso aconteceu outras ficava todo irritado quando acordava e a minha mãe havia voltado do mercado sem que eu tivesse ido.
- Não te quis acordar, dormias tão bem.
Dizia ela tentando acalmar a minha reina e entregando-me um bolo de côco ou um pastel de nata que eu adorava, mas que recusava receber.
- Não quero essa porcaria! - dizia-lhe com tom irritado, mas era por pouco tempo, daí a nada, comia o meu e se a minha irmã não tivesse comido o dela…
Não sei porque razão, mas a verdade é que há cerca de um ano atrás, a ida ao mercado passou a fazer parte da minha rotina dos Sábados de manhã, às vezes fico mesmo irritado quando chego ao estacionamento reservado aos “cambados” e está ocupado por outro tipo de deficientes, e por vezes há policias mesmo ali, se calhar a confraternizar com os “deficientes”, enfim… outras vezes isso não acontecia, estaciono, coloco o dístico a comprovar que sou “cambado”, vou até ao Anadia comprar uma revista. Depois nas calmas, entro no mercado, percorro-o de uma ponta a outra a comparar preços e acabo sempre a comprar duas batatas-doces ao senhor do costume.
- Deixe ficar aí num cantinho que vou lá cima tomar um café e depois passo por cá.
Digo ao homem que logo põe o saco entre dois cestos.
Não sei bem porquê, mas a verdade é que andamos por aí um pouco como transitam os carros, ou seja, circulamos pela direita, digo isto porque ao subir a escadaria que dá para o primeiro andar onde fica o café que frequento, vou sempre encostado à parede, e quem desce, vem sempre pelo lado oposto encostado ao corrimão.
Nas vezes em que levo comigo a máquina fotográfica, ao chegar ao fim da escada há sempre alguém que quase me enfia uma colher de chá com polpa de maracujá ou de fruto delicioso pela boca dentro, e falam comigo em inglês como se entendesse uma só palavra, mas parece-me que dizem que é um delicioso fruto tropical, a principio achava graça e dizia:
- Eu sei isso o que é, tenho lá no quintal, um dia destes ofereço-lhe uns porque lá em casa ninguém aproveita.
Agora já não acho graça nenhuma, e digo:
- Acha-me com cara de inglês?
Mas não é nada que a simpatia dos empregados do café não me façam esquecer. Costumo ir direito ao balcão pedir um garoto e meia torrada enquanto dou uma espreitadela para ver um lugar ao sol. Sento-me, ponho os pés num ferro que atravessa os pés da mesa, tiro os óculos e limpo-os com um guardanapo de papel, se tiver sol, descanso-os sobre a mesa enquanto fecho os olhos e levanto a cabeça de forma a poder absorver o máximo calor. Enquanto isto dou dois dedinhos de conversa ao meu Deus ou gracejo com Jesus.
Às vezes quando abro os olhos tenho já está em cima da mesa uma bela fatia de pão caseiro cheia de manteiga
derretida, e juntamente com o café uma broa de mel. É a primeira a ser comida. Ah, também vem sempre um bonito
guardanapo cor de vinho, que apesar de ser de papel, é de qualidade.
derretida, e juntamente com o café uma broa de mel. É a primeira a ser comida. Ah, também vem sempre um bonito
guardanapo cor de vinho, que apesar de ser de papel, é de qualidade.
Com a revista aberta na primeira página. abro o pacote de açúcar e deito mais ou menos metade na chávena. De seguida vou mexendo, mexendo, enquanto vou folheando páginas até encontrar algum assunto que me prenda a atenção. Como a broa e começo a ler, alternado com torrada e café.
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